
A Procuradoria da Justiça Desportiva apresentou denúncia formal contra o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, e outras quatro pessoas, por envolvimento em um esquema de manipulação de resultados no futebol, ligado a apostas esportivas ilegais. O processo tem como base as apurações do Inquérito 107/2025, que revelou um plano deliberado para beneficiar apostadores com informações privilegiadas no Campeonato Brasileiro de 2023.
Bruno Henrique é acusado de forçar um cartão amarelo na partida entre Flamengo e Santos, realizada no dia 1º de novembro de 2023, com o objetivo de favorecer apostas feitas por seu irmão, Wander Nunes Pinto Junior, e outros envolvidos. Caso condenado, o jogador poderá ser suspenso por até dois anos, além de cumprir 24 partidas fora dos gramados e pagar multa de até R$ 200 mil.
Esquema foi descoberto após avanço das investigações da Polícia Federal
Inicialmente, os indícios eram apenas estatísticos: uma movimentação atípica no mercado de apostas chamou atenção de plataformas que operam o mercado de bets. No entanto, a situação mudou com a conclusão da investigação pela Polícia Federal, que obteve acesso a mensagens trocadas entre Bruno Henrique e seu irmão, nas quais o atleta confirma que "cumpriria o combinado" ao receber o cartão amarelo.
A denúncia aponta que Wander utilizou tanto sua própria conta quanto a de sua esposa para apostar especificamente no cartão de Bruno Henrique. Ele também teria compartilhado a informação privilegiada com amigos, com o objetivo de ampliar os lucros do grupo. Como consequência, algumas casas de apostas chegaram a bloquear pagamentos por suspeita de fraude.
Denúncia atinge outros quatro envolvidos e pode ter repercussão internacional
Além de Bruno Henrique, a Procuradoria denunciou:
Wander Nunes Pinto Junior (irmão do jogador);
Claudinei Vitor Mosquete Bassan;
Andryl Sales Nascimento dos Reis;
Douglas Ribeiro Pina Barcelos.
Os três amigos de Wander responderão por infração aos artigos 243-A e 163 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), que tratam de manipulação de resultados e participação em atos ilícitos. O caso é considerado tão grave que a Procuradoria solicitou que as sanções tenham validade internacional, conforme previsão do artigo 70.1 do Código Disciplinar da FIFA.

Quais são os artigos que Bruno Henrique pode ter violado?
A Procuradoria enquadrou Bruno Henrique nos artigos:
Artigo 243 do CBJD: Atuar de modo prejudicial à equipe, com pena de até 720 dias de suspensão e multa de até R$ 100 mil;
Artigo 243-A: Influenciar o resultado de partida, com pena de até 24 partidas de suspensão e multa de até R$ 100 mil;
Artigo 191, inciso III (de forma subsidiária): Descumprimento do regulamento geral da CBF, especialmente no que tange à integridade esportiva.
O pedido da Procuradoria é que as penas sejam aplicadas cumulativamente, conforme previsão do artigo 184 do CBJD.
STJD intimou nove pessoas; maioria optou por ficar em silêncio
Durante o inquérito conduzido pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), nove pessoas foram intimadas a prestar depoimento por videoconferência, incluindo Bruno Henrique. A maioria preferiu exercer o direito ao silêncio. Ainda assim, a Polícia Federal reuniu provas suficientes para sustentar a acusação formal por fraude em competição esportiva e estelionato, em razão do uso de informação privilegiada para obter vantagem econômica ilícita.
O que diz a FIFA sobre manipulação de resultados em apostas esportivas?
De acordo com o Código Disciplinar da FIFA 2025, práticas de manipulação de resultados são punidas com rigor e podem gerar sanções esportivas internacionais. O artigo 10.1.B estabelece que o prazo de prescrição para esse tipo de infração é de até 10 anos, o que reforça o impacto de longo prazo que ações como essa podem ter sobre a carreira dos envolvidos.
Implicações para o Flamengo e para o mercado de apostas
A denúncia contra um jogador de destaque do Flamengo coloca mais uma vez em xeque a relação entre futebol e apostas esportivas, tema que vem sendo debatido intensamente nos últimos anos com a explosão das plataformas de bets no Brasil.
Apesar de ainda não haver data definida para o julgamento em primeira instância, o caso pode abrir precedentes importantes para o combate à manipulação de resultados e para o fortalecimento da confiança nas operadoras de apostas legais, que dependem diretamente da integridade dos eventos esportivos.
Fonte: STJD