
Uma pesquisa conduzida pelas antropólogas Patrícia Araújo e Jullyane Cardoso, divulgada pelo jornal Valor Econômico, identificou quatro perfis de apostadores no Brasil e revelou aspectos importantes sobre como diferentes públicos se relacionam com as apostas esportivas e jogos online.
Com caráter qualitativo, o estudo envolveu entrevistas com 60 pessoas e a análise de mais de 5 mil menções em redes sociais ao longo de aproximadamente seis meses, com o objetivo de entender as motivações e o comportamento dos brasileiros que apostam.
“Já havia algum aprendizado de pesquisas anteriores de que aposta não é só diversão, você encontra também pessoas usando como complemento de renda ou até como renda principal. As plataformas foram desenhadas para capturar nossa atenção, não para informar. Há um colorido, um sol que faz a pessoa continuar na plataforma e perder a noção do tempo”, explicou Araújo, durante a apresentação dos resultados em um evento de educação financeira realizado em São Paulo.
Diferenças entre homens e mulheres nas apostas
O estudo também destaca que o comportamento feminino nas apostas costuma ser diferente do masculino. Segundo as antropólogas, para as mulheres, a experiência é mais solitária e frequentemente ligada ao cuidado com a família. “Para as mulheres é uma experiência mais solitária, muitas vezes para complemento de renda para dar um presente para o filho, para a nora, é mais doméstica”, afirmou Jullyane Cardoso.
Já entre os homens, a experiência tende a ser mais coletiva, conectada ao universo do futebol e à socialização com amigos. “É o dinheiro que o apostador usaria para tomar uma cerveja, não o do orçamento doméstico“, completou Cardoso.
Apostas e desigualdade social: diferentes narrativas entre classes
Outro ponto analisado pela pesquisa foi a diferença de motivação entre as classes sociais. Para as classes A e B, a prática das apostas está geralmente associada ao lazer e entretenimento. Por outro lado, nas classes D e E, a relação com o jogo tende a ser mais ligada à sobrevivência financeira. “Num contexto de emprego em que não se tem renda fixa ou tem uma renda mais apertada, a frequência das apostas é parecida, mas a narrativa é outra”, observou Araújo.
Os quatro perfis de apostadores brasileiros
A partir das entrevistas e análises, as pesquisadoras definiram quatro perfis distintos de apostadores no Brasil:
Adeptos da fortuna Jogadores que acreditam que a sorte um dia vai bater à porta. Este perfil é mais comum entre mulheres, que preferem jogos como slots (cassino online, popular "tigrinho").
Expert da realidade Aposta com método, cálculos e análise, tentando “vencer o sistema”. Predominantemente masculino, é o perfil mais presente nas apostas esportivas.
Matadores de leões Jogam para conseguir um dinheiro extra para pagar contas.
Caçadores de emoções Buscam a adrenalina e o desafio das apostas.
Uma nova realidade digital para os brasileiros
O crescimento das plataformas de apostas e cassino online reflete, segundo as autoras, mudanças no comportamento digital da população brasileira. “Tem a ver com o nosso tempo na internet, das coisas se acelerando. Temos que entender o fenômeno, como vai ser observar esse campo e como se alcança o pessoal além do movimento que ‘não é legal jogar, cuidado como joga’, mas como auxiliar este público a se relacionar de maneira mais saudável com a aposta”, concluiu Araújo.
Fonte: Valor / O Globo
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